Naquele 6 de junho, o Brasil entrou com a campeã camisa Canarinho, de mangas longas, calção e meiões brancos, contra La Roja, a Espanha, numa partida crucial do grupo 3 da Copa do Mundo de 1962, no Sausalito, em Viña del Mar. Por causa do empate contra os tcheco-eslovacos, a Seleção Brasileira não podia perder para continuar a luta pelo bi. Aymoré Moreira mandou o escrete a campo com Gylmar, Djalma, Mauro Ramos, Zózimo e Nilton Santos; Zito, Didi e Zagallo; Garrincha, Vavá e a novidade: Amarildo, “o possesso”. O jovem jogador do Botafogo, de 21 anos, entrou no lugar de outro jovem. Um jovem que já era Rei Pelé – que sentiu uma contusão n0 0x0 contra a Tchecoeslováquia.
O técnico da Espanha, o argentino Helenio Herrera, escalou Araquistain, Rodri, Rodriguez, Gracia, Verges, Etxeberria, Pérez, Collar, Peiró, Gento e … Ferenc Puskas! Isso mesmo, o craque vice-campeão do mundo pela Hungria em 1954 se naturalizou espanhol durante seus gloriosos anos de Real Madrid (ganhou 3 vezes a Copa dos Campeões, hoje Champions) e pode jogar o Mundial de 1962 no Chile pela Roja. Helenio Herrera manteve no banco outro galático do Real Madrid: Di Stéfano, argentino naturalizado espanhol, já tinha jogado pela Colômbia. Três seleções, mas o artilheiro chamado de “saeta rubia” (flecha loira) jamais entrou em campo numa Copa do Mundo.
Mas a presença de Di Stéfano no banco da Fúria já era suficiente para mexer com os brios de um importante jogador brasileiro. Didi, o gênio da folha-seca, queria arrasar nessa partida em especial, porque se sentiu boicotado pela “flecha loira” na curta passagem pelo Madrid. O time-base campeão do mundo em 1958 carregava o peso de quatro anos mais nas costas, entrou nervoso, sem Pelé… e ainda por cima tomou o primeiro gol. Abelardo, aos 35´, abriu o placar para a Espanha.
Aí o momento crucial da Copa, onde valeu toda a malandragem de Nilton Santos, “a enciclopédia do futebol”, já com 37 anos. O lateral-esquerdo se envolveu num lance com o espanhol Collar que poderia ser interpretado como pênalti para a Espanha, mas deu dois passos para a fora da área (olha, tenho dúvidas se foi falta. Por este ângulo aqui, me parece que o espanhol se joga em cima de Nilton Santos). O juiz chileno Sergio Bustamante marcou só falta. A sorte continuava do lado verde-amarelo. Depois da cobrança, a bola sobrou para Puskas, que acertou uma bicicleta, pro fundo do gol… anulado pelo juizão. O popular “perigo de gol”. Seria o único gol de Puskas com a camisa da Espanha, que abriria 2×0 em Viña del Mar. Mas como para mim não houve falta no lance que originou a bicicleta de Puskas…
No segundo tempo, brilhou a estrela solitária. Jogadores do Botafogo participaram dos dois gols da virada. Zagallo cruzou e o substituto de Pelé, Amarildo, marcou o gol de empate, aos 27 do segundo tempo.
40 minutos da segunda etapa. Grande jogada de Garrincha. Segundo gol do seu colega de Botafogo. Amarildo justificava o apelido dado pelo genial Nelson Rodrigues: “o Possesso” (sobre o camisa 20 e o cronista, recomendo a leitura deste artigo no excelente blog “Literatura na Arquibancada“).
O Brasil estava classificado para as quartas de final da Copa.
To be continued…
Leia também:
Fontes:
- Enciclopédia da Seleção – As Seleções Brasileiras de Futebol 1914-2000, de Ivan Soter.
- As Melhores Seleções Brasileiras de Todos os Tempos, de Milton Leite.
- Seleção Brasileira – 90 anos, de Antonio Carlos Napoleão e Roberrto Assaf.
- Site Fifa.com
- Filme oficial da Copa de 1962
- seção O Globo Há 50 anos, do jornal O Globo, edição impressa.
- Todas as Copas – de 1930 a 2002. Editado pelo Lance!
- Didi – O Gênio da Folha-Seca
- A História das Camisas de Todos os Jogos da Copa do Mundo