Nelson Rodrigues | O BERRO IMPRESSO DAS MANCHETES. Crônicas Completas da ‘Manchete Esportiva’ 55-59.

“Corria o ano de 1911. Vejam vocês: 1911! O bigode do Kaiser estava, então em plena vigência. Mata Hari, com um seio só, ateava paixões e suicídios; e as mulheres, aqui e alhures, usavam umas ancas imensas e intransportáveis. Aliás, diga-se de passagem: é impossível não ter uma funda nostalgia dos quadris anteriores à Primeira Grande Guerra. Uma menina de 14 anos para atravessar uma porta tinha que se pôr de perfil. Convenhamos: – grande época! grande época!”

Assim começa “O Berro Impresso das Manchetes“. Essa crônica trata do Flamengo, mas é puro Nelson Rodrigues, cujo centenário de nascimento é lembrado hoje, 23 de agosto de 2012, em todas as mídias.

O livraço é uma compilação das clássicas crônicas de Nelson Rodrigues na primeira fase da revista “Manchete Esportiva, da Bloch, entre 1955 e 1959. Foi lançado em 2007 pela editora Agir, com pesquisa de texto e informativo posfácio de Marcos Pedrosa de Souza.

O dramaturgo, escritor, jornalista e cronista era pó-de-arroz confesso, Fluminense roxo, ou melhor, vert, blanc, rouge. Mas suas crônicas também falam dos rivais: Flamengo, Vasco, Botafogo, América… dos grandes clássicos no Maracanã… da Seleção.

O patrão Adolpho Bloch sugeriu que a crônica na “Esportiva” se chamasse “Meu Personagem da Semana”. Nelson comprou a ideia, explica Pedrosa de Souza no posfácio. Foram personagens da semana de Nelson craques como Zizinho, Castilho, Orlando, Julinho Botelho, Barbosa, Didi, Dida (jogador flamenguista ídolo de Zico), Mazzola, Garrincha, Vavá, Pelé… aliás, nas crônicas publicadas antes da Copa de 1958, o “pachecão” Nelson mostrava acreditar plenamente no escrete treinado por Vicente Feola.

Feola e outros treinadores (Zezé Moreira, Yustrich, Fleitas Solich), cartolas e até bandeirinhas (um é apelidado de “Caixa Econômica”, depois de um Fla-Flu que o tricolor perdeu) também viram personagens.

Nelson dispara sua metralhadora contra Paulo Machado de Carvalho, o ‘marechal da vitória’, Leônidas, que criticava Pelé…

E dedica as melhores palavras também para o irmão, Mario Filho, o criador das multidões, padrinho da expressão Fla-Flu, inventor do Torneio Rio São-Paulo e de competições como os Jogos da Primavera.

Não acho que o jornalismo esportivo deva escolher só um lado nesse Fla-Flu que se travou hoje nas colunas e blogs entre a deliciosa narração de Nelson Rodrigues  e a objetividade, as estatísticas, a informação. Gosto dos dois jeitos de falar de esporte. Gosto de documentários e de ficção. Tudo deve ter o seu espaço. O tricolor doente sabia elogiar os rubro-negros, os cruzmaltinos, os alvinegros da estrela solitária, os alvirrubros da Zona Norte e da Zona Oeste. Afinal de contas, “toda a unanimidade é burra”.

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