A Mostra Cinema e Futebol (do Canal Brasil) e os DVDs da Coleção Copa, de Placar/Abril, me deram a oportunidade de acompanhar duas versões distintas sobre o polêmico Mundial de 78, na Argentina, o último na América do Sul até que a bola role sabe lá em que estádio brasileiro no inverno de 2014. “Copa 78: O Poder do Futebol” passou no começo da semana no Canal Brasil. “Argentina Campeones”, título original do filme oficial da Copa de 78, chegou às bancas na coleção de DVDs da Abril. E o engraçado é que nos créditos alguns nomes coincidem, como o do diretor Maurício Sherman, bem como muitas das imagens são as mesmas. Mas o texto… ah, o texto é bem diferente.
O DVD lançado pela Abril, que é o filme oficial da Copa, mostra o torneio jogo a jogo, começando com um clip de lances … bem violentos! Sim, é mencionado que o Mundial foi disputado num país sob ditadura, junta militar que derrubou Isabelita Perón.
Mas é o documentário “Copa 78: O Poder do Futebol”, exibido no Canal Brasil, que toca mais o dedo na ferida do Mundial disputado durante a ditadura de Jorge Videla. Abre com o depoimento de um dirigente dos Montoneros (grupo guerrilheiro argentino) a um jornalista, falando em trégua no período da competição. Cita os boicotes, as campanhas contra o Mundial na Argentina. E no que diz respeito ao futebol, bola rolando, mesmo, Sherman e o codiretor Victor di Mello assumem uma postura autoral, bem crítica ao esquema tático e “futebolês” próprio do técnico brasileiro Cláudio Coutinho – o texto, narrado pro Sérgio Chapelin, dá umas duas estocadas nos termos “overlapping” (avanço do lateral direito) e “jogador polivalente”, muito usados por Coutinho. A entrevista em que o treinador se diz “campeão moral” é repetida algumas vezes. O técnico argentino César Luís Menotti, homem que teve a marra de barrar o jovem Maradona naquela que poderia ser 1ª Copa de Diego, tem destaque maior no filme. Sempre polêmico.
Também estão no documentário “Copa 78: O Poder do Futebol” a chamada “batalha de Rosário” (o vergonhoso Brasil 0x0 Argentina – Coutinho escalou o volante Chicão, que tinha fama de durão; o clássico foi um festival de pontapés) e a goleada da Argentina sobre o Peru do goleiro Quiroga por 6×0 (os hermanos jogaram depois do Brasil e já sabiam quantos gols precisavam marcar para ir à final).
Pessoalmente, a Copa de 78 foi a primeira que acompanhei de ponta a ponta, na TV. Apesar de nomes como Zico, Rivellino, Dinamite, Reinaldo, Oscar, Leão, Nelinho, Jorge Mendonça, Dirceu e Gil, a seleção brasileira não me encantou especialmente (a primeira fase, então, foi pífia). Não torci contra a Argentina na final, apesar do resultado suspeito contra o Peru. Fui exceção entre os meus colegas de quinta série. Quase todos os outros coleguinhas de sala torceram pela Holanda, certamente não em protesto contra a ditadura argentina, mas para secar o time que eliminou o Brasil. Se eu fosse maiorzinho, teria conhecimento sobre o que acontecia nos quartéis argentinos. Muito provavelmente teria optado pela Holanda (se bem que duvido que não festejasse o tri brasileiro em 1970 porque vivíamos sob uma ditadura – outro filme, o delicioso “O Ano Em que Meus Pais Saíram de Férias”, aborda esse dilema de torcedor/cidadão).
Já foi divulgado que o ditador argentino Jorge Videla esteve no vestiário da seleção peruana, antes dos 6×0. Também se cogita uma hipótese de suborno, que teria sido intermediado por traficantes colombianos. Sei que há argentinos que preferem desprezar o título de 78. Provavelmente uma minoria.
Não dá para ignorar que muito bom o time de Menotti, com Fillol, Olguín, Galván, Passarella, Tarantini, Gallego, Ardilles, Bertoni, Luque, Ortiz e, especialmente, Mário Kempes. A torcida jogava junto, como sempre. Fillol pegava muito. Sua atuação nos 2×0 contra a Polônia é fantástica, pegando pênalti, inclusive. E Kempes arrebentou. Foi decisivo, com assistências, gols na reta final e muita raça. Um grande camisa 10. Mas claro que uma forcinha nos bastidores, uma tabela mal feita, uma pressãozinha no vestiário pode ter ajudado. E o futebolzinho do Brasil também colaborou pra isso (apesar da beleza de alguns lances, como os gols de Nelinho).
Nos jogos da Squadra Azzurra, aparecia e bem um atacante chamado Paolo Rossi. Mas isso são outros 1982 por cento.
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Alguns dizem que foi uma Copa ruim. Eu não acho.
Times bons cheios de craques como Argentina, Holanda, Itália, Alemanha.
Brasil , apesar de ter Zico, Riva, Dinamite, Reinaldo, foi uma verdadeira bagunça como time. Mil escalações diferentes, testes no meio da competição e por aí vai…Coutinho não foi feliz na seleção como fora no Flamengo.
Choradeiras à parte com relação ao jogo do Peru, a Argentina tinha um belo time com Ardiles, Passarela, El Pato Fillol, Luque e o dono da Copa: Mário Alberto Kempes (El Matador de Valencia).
Jogo final foi uma batalha. Cada sarrafada pros dois lados…
E que gol épico de Kempes , dividindo com a zaga toda holandesa…
No Brasil, três destaques: Dirceu, que comandou o meio , na ausência de Zico e Riva; Dinamite , que marcou três gols, apesar de reserva inicialmente, e Nelinho com seus dois golaços: a patada contra a Polônia e o monumental trivelaço contra a Itália (no gol, simplesmete Dino Zoff).
Campeão Moral?? Coisa de perdedor…
O Brasil não merecia mesmo ganhar aquele mundial.
Muito bem, Reginaldo!
É curioso como a gente lembra das coisas à partir das lembranças pessoais.
Na fase final dessa Copa eu estava viajando para os EUA e, naquela época, era meio difícil de acompanhar jogos do Brasil por lá. Havia alguns lugares onde a gente podia ver os jogos num telão, mas custava caro e esses lugares eram distantes.
O Coutinho era muito contestado como técnico, seu esquema era meio retranqueiro, ele usava termos difíceis como “ponto futuro” – dizia-se que os jogadores não sabiam muito bem o que significava isso. Além disso era a sua primeira experiência como técnico, fato que gerava muita desconfiança aqui em São Paulo. Naquela época esse problema Rio x São Paulo era mais agudo.
A regra da Copa era diferente, era alguma coisa tipo pontos corridos entre os finalistas.
Fiquei sabendo, que a Argentina tinha ganho a Copa e que o Peru teria entregue o jogo, mas não vi as finais.
O Brasil, segundo o Coutinho, tinha sido apenas “Campeão Moral” porque perdeu invicto, ao passo que a Argentina já tinha sido derrotada na fase classificatória.
Minha impressão pessoal na época foi de que o Brasil poderia ter ganho se jogasse para ganhar (teve um empate compremetedor na fase final) e então não ficaria dependente do resultado Argentina X Peru.
A certeza é que a regra era inadequada e dava margem a esses “acertos”.
Luiz Eduardo
Na verdade, o Coutinho já tinha experiência de treinador, além de uma carreira na CBD. O excelente site Flapedia lembra que ele treinou a seleção peruana, trabalhou nas comissão técnica da seleção olímpica que disputou os Jogos de Montreal 76 (técnico: Zizinho) e, enfim, o Flamengo – antes de assumir a seleção principal. Na volta da Copa de 78 -onde realmenete foi muito questionado, entre outros motivos, por não levar Falcão, do Inter bicampeão nacional- engrenou no Fla: 3 títulos estaduais e o Brasileiro de 80. Deixou o time quase pronto para Carpegianni, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes 1981. Bom, mas aí também alguém pode dizer. Com aquele time de Zico, Júnior e cia, ficava mais fácil, não? Mas não dá para tirar o mérito de Cláudio Coutinho na montagem do timaço do Fla campeão de tudo. Quando ele começou a ter o trabalho mais reconhecido, sofreu o acidente fatal, num dia de pesca submarina. Que coisa, não?
Quanto ao regulamento da Copa de 78, tem razão. Depois da primeira fase, em grupos de 4, havia mais uma fase de grupos, com 4 seleções – ao contrário de 82, quando foram 3 por grupo. Na última rodada da segunda fase, a Argentina jogou depois do Brasil sabendo do que precisava fazer. 4 gols. Fez mais 2 de lambuja. E se classificou pra final contra a Laranja Mecânica.
Obrigado por mais uma visita e comentário! Valeu!