Pela revista espanhola Mediapunta (ver post anterior), fiquei sabendo do livro do jornalista colombiano Wilmar Cabrera: Los Fantasmas de Sarrià Visten de Chándal (lançado em castelhano pela Editorial Milenio, da Catalunha, em junho 2012). É uma elaborada mistura de ficção e realidade, memória e fatos, bolada pelo jornalista colombiano radicado em Barcelona há 5 anos. E como o nome sugere, o futebol brasileiro é um dos personagens principais, já que a derrota da seleção de Telê Santana para a Itália de Bearzot, Zoff, Gentile e Rossi (três vezes Paolo Rossi…) no Mundial de 1982 está em todo o livro. É o que chamamos aqui de a “tragédia do Sarrià” – para Wilmar Cabrera, guardadas as proporções o “11 de setembro do futebol brasileiro”. Sarrià é o nome do bairro de classe média alta de Barcelona, que emprestou seu nome para o estádio do RCD Espanyol, entre 1923 e 1997. Em 21 de junho daquele ano, o Espanyol jogou sua última partida no Sarrià, Dá para imaginar a dor dos torcedores blaquiazules ao testemunhar a demolição de seu estádio. Comparável talvez à dor do torcedor brasileiro, depois da derrota para a Squadra Azzurra. Torcer para a Seleção Brasileira nunca mais foi a mesma coisa. O que o brasileiro precisa entender é que a Itália também tinha um timaço – e contava com a preferência – surpresa!- do autor, Wilmar Cabrera, por razões sentimentais. Na Colômbia, ele é torcedor dos Millonarios. No álbum da Copa de 78, escolheu uma seleção com as cores do seu time de coração. Deu Itália. Preferência mantida em 1982. Se o Brasil de Telê jogava por samba – como o “Voa Canarinho” cantado por Júnior -, para Wilmar Cabrera a Itália era uma orquestra de jazz.
Alguma editora tem a manha de lançar Los Fantasmas de Sarrià Visten de Chándal no Brasil?
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Tag: Toninho Cerezo
20 anos do Paulistão de 92 – o último estadual da galeria de títulos do mestre Telê.

O Paulistão de 92 foi decidido por tricolores e alviverdes. O São Paulo comandado por Telê Santana teve que passar pelo Palmeiras já patrocinado pela Parmalat para ser bicampeão paulista. No primeiro jogo, em 5 de dezembro, um espetáculo, comandado especialmente por Raí – fazendo jus ao refrão “Raí, Raí, o terror do Morumbi”, com 3 gols – e Cafu (“terror do Pacaembu” no grito de torcida), um gol e atuação decisiva. São Paulo 4×2 no Palmeiras (que tinha Mazinho, César Sampaio, Zinho, Evair e um certo Cuca…). No intervalo de 2 semanas entre os dois jogos, o tricolor foi ao Japão e voltou com seu primeiro Mundial Interclubes, derrotando o Dream Team do Barça (aí são outros 500 posts…)
Em 20 de dezembro, com mais de 110 mil pessoas (110 mil!) no Morumbi, o campeão mundial confirmou o título estadual contra o alviverde. Müller abriu o placar, num belo gol. Toninho Cerezo ampliou. Quando o São Paulo já comemorava, debaixo de chuva, Zinho diminuiu. Tarde demais. Dois a um. São Paulo bicampeão paulista. Continuar lendo “20 anos do Paulistão de 92 – o último estadual da galeria de títulos do mestre Telê.”
12 do 12… de 1993!

Estádio Nacional de Tóquio, 12 de dezembro de 1993. O São Paulo de Telê Santana, bicampeão da Libertadores, atravessou o mundo outra vez para ganhar o bi do Mundial de Clubes (ou da Copa Intercontinental, conforme o gosto do freguês), já sem o capitão Raí, vendido para o PSG. O adversário era um multinacional Milan de Fábio Capello, vice-campeão europeu (o Olympique de Marselha, campeão da Europa, estava envolvido em escândalos, e foi punido).
O livro “Saga de uma Paixão”, de Ignácio de Loyola Brandão, ganhou na época uma segunda edição (cuja capa ilustra o post) para contar mais um título.
E foi um jogo maluco maluco, carregado de emoção.
Palhinha abriu o placar. No segundo tempo, Massaro empatou. Toninho Cerezo fez 2×1. O Milan empatou de novo,com o francês Papin.
Nos últimos minutos, Müller fez um gol inacreditável. O lance do “questo gol é per te, buffone”. O “buffone” (palhaço) para o habilidoso e aqui muito sortudo atacante brasileiro era o zagueiro Costacurta.
São Paulo, bicampeão mundial. Telê nas alturas. A ficha técnica dentro do post: Continuar lendo “12 do 12… de 1993!”
“1992 – O Mundo em Três Cores”
Publicado originalmente em dezembro de 2012
Ao mestre, com carinho.
Poderia ser esse o título deste post: o livro de Raí com o jornalista André Plihal, “1992 – O Mundo em Três Cores” (Panda Books), sobre o primeiro dos três mundiais do tricolor paulista (o segundo viria quase exatamente um ano depois, em 12/12/93, já sem Raí -negociado com o PSG -contra o Milan).
Num texto leve e de qualidade muito acima da média dos lançamentos comemorativos, o eterno camisa 10 do Morumbi e o excelente repórter da ESPN contam os bastidores da conquista… os detalhes da relação fraternal Raí- mestre Telê Santana (que às vezes pegava no pé demais do Cafu, mas aliviava pro irmão do doutor)…. falam da importância de cada jogador (são destacados Zetti, Adílson, Ronaldão e Pintado) e enaltecem o trabalho em equipe, o clima de respeito e a união dentro do elenco que foi campeão de tudo.
“Já havíamos combinado de dividir o prêmio entre toda a delegação. Gostaria apenas de ter ficar com a chave gigante. Acabei não ficando, não guardando, como não guardo nada desta vida. Pelo menos nada material, que fique entendido. O sorriso do Telê em Tóquio está muito bem guardado” – Raí, em “1992 – O Mundo em Três Cores”.
Sob a maestria de Telê, o capitão Raí marcou 87 dos seus 128 gols pelo São Paulo. O trio “RPM” (Raí, Palhinha, Müller) mais o Cafu eram considerados insubstituíveis pelo técnico.
Tem depoimentos de colegas de Raí e a ficha de todos os jogos do ano glorioso de 1992 pro torcedor tricolor. Uma grande sacada desse lançamento da Panda Books é um flipbook, que reproduz os dois gols de Raí no jogão disputado no estádio Nacional de Tóquio. 13/12/1992, o dia em que o Dream Team do Barça (com um “certo” Pep Guardiola no meio-campo), foi “atropelado por uma Ferrari“, nas palavras do seu técnico Johann Cruyff. Raí não tem 100% certeza que o holandês pronunciou a frase, mesmo. Nesse caso, imprima-se a lenda.
Coleção Ídolos Imortais | “Os Dez Mais do Atlético Mineiro”
O goleiro Kafunga, o zagueiro Luisinho, o meio-campo Toninho Cerezo, os artilheiros Mário de Castro, Guará, Ubaldo, Dario (o Dadá Maravilha), Reinaldo e Marques, e o ponta Éder. São “Os Dez Mais do Atlético Mineiro“, no livro do jornalista Eduardo Murta, lançamento da Maquinária Editora. Para chegar aos “dez mais” do Galo, foram colhidos os votos de um grupo de torcedores famosos, como é de praxe na coleção Ídolos Imortais da editora. Continuar lendo “Coleção Ídolos Imortais | “Os Dez Mais do Atlético Mineiro””
“20 Jogos Eternos do São Paulo”
Outro lançamento da Maquinária inaugura uma nova coleção da editora: Memória de Torcedor. E o primeiro título é “20 Jogos Eternos do São Paulo“, do jornalista Fábio Matos, autor da excelente biografia de Roberto Dias, herói são-paulino dos anos 60.
A edição contém infográficos dos gols, caricaturas + perfis dos craques das partidas escolhidas, fotos dos times. Fábio Matos autografa seu livro novo em 2 de outubro, na Saraiva do Morumbi Shopping.
Continuar lendo ““20 Jogos Eternos do São Paulo””
Sarrià, 5 de julho de 1982

Há 30 anos, o Brasil enfrentou a Itália no estádio Sarrià, que era o campo do RCD Espanyol de Barcelona. A seleção Canarinho treinada pelo mestre Telê Santana poderia empatar, para garantir a vaga na semifinal. Mas acabou voltando para casa. A Itália de Enzo Bearzot não ficou atrás no placar. O bambino Paolo Rossi abriu o marcador aos 5. Sócrates empatou sete minutos depois. Paolo Rossi desempatou aos 25. No segundo tempo, o Brasil empatou novamente com um golaço de Falcão. O resultado classificaria o Brasil. Mas o camisa 20 da Squadra Azzura marcou seu terceiro gol a 11 minutos do apito final.
A chamada ‘tragédia do Sarrià’ foi retratada numa foto de Reginaldo Manente, que captou o choro de um menino com a camisa amarelinha, nas arquibancadas do estádio do Espanyol. A foto ocupou quase toda a primeira página do Jornal da Tarde, do grupo Estadão, no “day after” – o dia seguinte da tragédia. Uma capa histórica (veja aqui).
“Sarriá-82 – O Que Faltou ao Futebol-Arte?” é o nome de um livro lançado esta semana pela Maquinária Editora, em que Gustavo Roman e Renato Zanata Arnos tentam explicar o que aconteceu com o escrete que encantou o mundo. Continuar lendo “Sarrià, 5 de julho de 1982”
Voa Canarinho. Saiu o livro “Sarriá-82 – O que Faltou ao Futebol-Arte?”.
27 de maio de 2012
Waldir Peres (depois Paulo Sérgio), Leandro, Oscar, Luizinho (Edinho) e Júnior; Falcão, Sócrates, Zico e Paulo Isidoro (Toninho Cerezo); Careca (Serginho Chulapa) e Éder (Dirceu). Com esse time, a Seleção Brasileira treinada por Telê Santana goleou o Eire (República da Irlanda) por 7 a 0, há exatos 30 anos, em 27 de maio de 1982, no Parque do Sabiá, em Uberlândia. Marcaram: Falcão, Sócrates (duas vezes), Serginho (também 2 gols), Luizinho e Zico!
A seleção se despedia do seu povo feliz, diante de 72.733 pagantes, para tentar buscar o tetra. Foi o último amistoso antes do voo do escrete canarinho para disputar a Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Você viu aí o nome do Careca na escalação. Infelizmente, o goleador do Guarani se machucou pouco antes do Mundial. Serginho Chulapa, “o artilheiro indomável”, polêmico dentro e fora do campo, ficou com a 9. O Brasil chegou como favorito, encantou o mundo com seu quadrado mágico formado por Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Deu show na primeira fase. No grupo com Argentina e Itália que decidia uma vaga na final, venceu bem os hermanos, num jogo em que Maradona perdeu a cabeça: 3×1. Contra a Itália, poderia empatar,saiu atrás, nunca esteve na frente do placar, e perdeu. 3×2. 5 de julho de 1982. O sonho do tetra foi adiado, logo com a melhor seleção que nosso futebol montou desde o tri no México 70. A falada “tragédia do Sarrià”, nome do estádio do Real Club Deportivo Espanyol de Barcelona na época (foi demolido 15 anos depois; o Espanyol usou por anos o Olímpico de Montjuic e hoje joga num moderno estádio entre Cornellà e El Prat).
A tragédia do Sarrià é o tema do livro de Gustavo Roman, futuro jornalista, colecionador de jogos de futebol (isso mesmo, ele coleciona partidas inteiras em vídeo: 5.350 partidas, de 1950 em diante!) e Renato Zanata Arnos, professor de História, pesquisador do futebol argentino (coautor do blog Futebol Argentino). “Sarriá 82 – O Que Faltou ao Futebol-Arte?”, que está para ser lançado pela Maquinária Editora. O livro já está em fase de revisão e a capa você pode ver abaixo.
Renato Zanata e Gustavo Roman assistiram, analisaram, esmiuçaram 25 dos 38 jogos (29 vitórias, 6 empates e apenas 3 derrotas) disputados pela Seleção de Telê, na primeira passagem do mestre pelo escrete canarinho. Mais os vídeos de 21 partidas da Seleção com o antecessor, Cláudio Coutinho. Total: 46 VTs. Alguns vistos e revistos.
Os autores entrevistaram Zico, os laterais Júnior e Leandro,o zagueiro Oscar, os meio-campistas Batista, Paulo Isidoro e Adílio e os jornalistas Mauro Beting, Mário Marra, André Rocha e Ariel Judas (argentino).
Parece leitura obrigatória para todos nós que sonhamos junto com os “Pachecos” em 1982 e nunca mais choramos por derrotas de nenhuma Seleção Brasileira. Por aquela, valia a pena chorar. Como o garoto da capa (inesquecível foto, histórica primeira página) do “Jornal da Tarde”, de 6 de julho de 1982.
- “Sarriá 82 – O Que Faltou ao Futebol-Arte?” já tem data para a noite de lançamento no Rio: 2 de julho, às 19h, na Livraria Travessa, shopping Leblon. Voltaremos ao assunto.
- Ouça o samba que marcou aquela seleção e inspira o título este post, “Povo Feliz (Voa Canarinho)”, na voz do lateral titular Júnior. Aqui, um trecho do clip. O compacto vendeu 500 mil cópias!
O dia em que uma “Ferrari” vermelha, branca e preta atropelou o Dream Team
Zetti, Vitor, Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luiz; Pintado, Toninho Cerezo (Dinho) e Raí; Cafu, Palhinha e Müller. Torcedor são-paulino, dá saudade de ler a escalação desse time, não dá? Em 13 de dezembro de 1992, o tricolor de Telê Santana, campeão da Libertadores, encarou o Dream Team do Barcelona, campeão europeu.
O Barça era treinado pelo seu polêmico ex-craque, Johan Cruyff. No estádio Nacional de Tóquio, de tantas recordações boas também para flamenguistas e gremistas, o campeão da Europa chegou como favorito. Tinha nomes como o goleiro Zubizarreta, de seleção espanhola, Koeman, Guardiola (o hoje técnico campeão de tudo), a joia dinamarquesa Michael Laudrup e o artilheiro búlgaro Stoichkov.
Que abriu o placar, aos 12 do primeiro tempo.
O camisa 10 do São Paulo, o capitão Raí, aproveitou cruzamento de Müller e fez o gol de empate, até hoje não se sabe bem como nem com que parte do corpo. Vai ser virado pra Lua lá assim em Ribeirão Preto, Morumbi, Paris ou Tóquio, Raí!
A 11 minutos do fim do tempo regulamentar, “olha a falta, o São Paulo vem com jogada ensaiada, olha a chance do tricolor, Raí na batida de falta, capricha garotinho, capricha, rolou pra Cafu, pra Raí pro gol, eee queeee goooolllll”. Raí fez de folha seca o gol do título. E a narração do pai da matéria, Osmar Santos, abre o hino do São Paulo num CD lançado por “Placar”.
Cruyff disse: “se é para ser atropelado, melhor que seja por uma Ferrari”.
Às duas da manhã no horário brasileiro, o São Paulo era campeão mundial pela primeira vez.

Esta taça é tua, Raí. Tua e de Zetti, Vitor, Adílson, Ronaldão, santo Ronaldo Luiz, Pintado, Toninho Cerezo, Dinho, Cafu, Palhinha, Müller, e acima de tudo, de Telê Santana.
Por isso, nada melhor para ilustrar este post do que esta foto do saudoso mestre, com este sorriso campeão, na volta ao Brasil com a taça do mundo, que está na capa do emocionante livro de André Ribeiro, “Fio de Esperança – Biografia de Telê Santana” (agora pela editora Cia dos Livros), altamente recomendado para quem gosta pelo futebol-arte. Continuar lendo “O dia em que uma “Ferrari” vermelha, branca e preta atropelou o Dream Team”
O bi mundial do tricolor

Estádio Nacional de Tóquio, 12 de dezembro de 1993. O São Paulo de Telê Santana, bicampeão da Libertadores, atravessou o mundo outra vez para ganhar o bi do Mundial de Clubes (ou da Copa Intercontinental, conforme o gosto do freguês), já sem o capitão Raí, vendido para o PSG. O adversário era um multinacional Milan de Fábio Capello, vice-campeão europeu (o Olympique de Marselha, campeão europeu, estava envolvido em escândalos, e foi punido).
O livro “Saga de uma Paixão”, de Ignácio de Loyola Brandão, ganhou na época uma segunda edição (cuja capa ilustra o post) para contar mais um título.
E foi um jogo maluco maluco, carregado de emoção. Continuar lendo “O bi mundial do tricolor”