Há 75 anos, a seleção italiana levantou sua primeira Copa do Mundo. O Mundial de 34 foi disputado na própria Itália, sob o fascismo de Mussolini.

A finalíssima, virada da Squadra Azzurra sobre a Tchecoslováquia por 2 a 1, gol decisivo de Schiavio na prorrogação, num 10 de junho como hoje, figura em 34º lugar no livro Os 50 Maiores Jogos das Copas do Mundo, do jornalista Paulo Vinícius Coelho. Segundo PVC, o técnico italiano, Vittorio Pozzo, sabia que vencer a Copa era questão de sobrevivência. Pouco antes do Mundial, o treinador contornou o pedido do ditador, que queria os jogadores num desfile militar. “Que Deus o proteja se Seleção fracassar”, ameaçou Mussolini, de acordo com o relato de PVC.

O livro do comentarista trata a semifinal com o Wunderteam (time-maravilha) da Áustria como decisão antecipada e posiciona em 23º lugar na lista dos jogões dos Mundiais as duas partidas entre Itália e Espanha pelas quartas-de-final (como houve empate no primeiro jogo, foram necessários mais 90 minutos, no dia seguinte! E a Fúria não contou aí com o mítico goleiro Zamora, atingido por um azzurri na véspera).
A campanha italiana começou com goleada. 7 a 1 sobre os Estados Unidos. Deste “match”, participou o oriundi Amphilócchio Guarisi, que antes de se naturalizar italiano e defender a Lazio, jogou como Filó, na Lusa, Paulistano, Corinthians e Seleção Brasileira. A Azzurra contou com outros oriundi…Luisito Monti, Atilio Demaria, Enrico Guaita e Raimondo Orsi, todos argentinos naturalizados italianos. Monti e Demaria foram vice pela Argentina em 1930 e campeões pela Itália em 34! Outro livro, Vencer ou Morrer – Futebol, Geopolítica e Identidade Nacional, do historiador Gilberto Agostino, fala da atração de talentos sul-americanos e do uso da Copa do Mundo como propaganda política da ditadura fascista. Na página 62, o historiador relata que os tchecos jamais aceitaram o resultado da final de 1934. Segundo a delegação theca, o juiz foi visto no camarote de Mussolini antes da partida. Quem se interessar sobre o assunto deve procurar o documentário “Fascismo e Futebol”, da BBC, que o Sportv exibiu na virada do ano – assunto deste post aqui do blog Memória EC, onde descobri o livro do Gilberto Agostino.
Após golear os norte-americanos e dobrar a Espanha no jogo-desempate, a Itália pegou uma das favoritas, a Áustria, na semifinal. E venceu por 1 a 0. Mesmo com a presença do craque Sindelar, o “homem de papel”, que era judeu e anos depois morreria em circunstâncias muuuito estranhas, também tema do documentário da BBC. Na finalíssima, o theco Puc abriu o placar. O oriundi Orsi empatou. E o centroavante Schiavio virou, já na prorrogação, para alívio do treinador Pozzo e do ditador Benito Mussolini, que assistia ao jogo da tribuna do estádio que levava o nome de seu partido. Afinal, era “vencer ou morrer”.
Com certeza, a Itália campeã de 1934 tinha grandes jogadores. Como o goleiro e capitão Giampiero Combi. E o atacante Giuseppe Meazza, ídolo da Inter de Milão, que fez 2 gols e deu assistências açucaradas. Erros dos apitadores e suspeitas de favorecimento existem, em Copas e fora delas. O que podemos e devemos questionar é por que foram escolhidas como sede de Copas (e Jogos Olímpicos também) países controlados por ditaduras, como a Itália de 1934 e a Argentina de 1978 (e olha, sou fã de Kempes, Fillol e toda aquela seleção do Menotti, mas nem um pouco de Jorge Rafael Videla e cia).
Outras fontes:
Almanaque do Futebol Sportv, Gustavo Poli e Lédio Carmona.
Todas as Copas, publicação do jornal Lance! Coordenação de Marcelo Damato.