Gostaria de dar outra dica de cinema. Por certo bem mais pesada que o documentário sobre Chico Buarque (post anterior).

“O Clã” (El Clan), de Pablo Trapero, conta em ritmo quase alucinante a história (real) dos Puccio, uma família de classe média argentina. O chefe da clã, Arquímedes Puccio, com passado de serviços aos milicos da sangrenta ditadura argentina, comandou clandestinamente já nos primeiros anos do governo Alfonsín um esquema para sequestrar gente rica, com o único objetivo de extorquir dinheiro e assim sustentar uma confortável vida de classe média. Mulher e quase todos filhos do casal ou faziam vista grossa ou participavam, de alguma maneira. Um dos filhos arrisca a carreira como jogador da seleção de rugby (os Pumas) participando das ações, que muitas vezes tinham como alvos amigos ou conhecidos da família. Vai viver um imenso dilema pessoal. Detalhe: o cativeiro das vítimas era na própria casa dos Puccio. Preste atenção nas constantes varrições que Arquímedes faz na calçada. Era pra ajudar a abafar os gritos dos reféns. Tenso filme de suspense, que deixa claro o terror psicológico e físico a que eram submetidos os sequestrados. Como no hit argentino da temporada passada, “Relatos Selvagens”, “O Clã” tem alguns dedos da produtora El Deseo, de Almodóvar.
Trapero levou o Leão de Prata de melhor direção em Veneza. O desempenho do Guilhermo Francella (vilão aqui, vítima em “O Segredo dos Seus Olhos”) como o psicopata Arquímedes Puccio é de Oscar. E a trilha sonora é muito boa: The Kinks, Creedence Clearwater Revival, Ella Fitzgerald and The Inkspots, David Lee Roth, e as bandas argentinas Seru Giran e Virus. Continuar lendo “Em cartaz: “O Clã”.”