Fut Pop Clube entrevista um cracaço do texto criativo, cronista esportivo de opinião respeitada mesmo sem esconder sua preferência clubística (ou talvez por isso mesmo). O jornalista Mauro Beting comenta futebol na rádio e TV Bandeirantes, tem programa no canal pago Band Sports (Beting e Beting, com o pai, Joelmir), escreve coluna no diário Lance!, atualiza seu blog no Lancenet, colabora para revistas como a Fut, também do Lance!, e outros sites, dá aulas, agora brinca de DJ…
Em março, Mauro lançou o livro Os Dez Mais do Palmeiras [saiba quem são os 10 e quem escolheu ] (coleção Ídolos Imortais, Maquinária Editora). E entre um jogo e outro, ainda encontrou um tempinho para conversar via e-mail com Fut Pop Clube. Na rede, Copa do Mundo, Seleção, Dunga, violência das torcidas, ídolos imortais, música. Dividi as 11 perguntas em 3 posts, numa formação 4-3-3. Atrás da defesa que ninguém passa, claro, Oberdan Cattani ou SÃO Marcos.
1) Fut Pop Clube – A um ano da Copa do Mundo, já tem seleção se garantindo na África do Sul. Você somaria a Espanha, campeã da Euro, à lista de usuais favoritos? Copa das Confederações serve de referência ou não?
Mauro Beting – Primeiramente, como diria Vicente Matheus, um prazer trocar ideias contigo, Lima. A Espanha está sempre entre as favoritas a ser a primeira das favoritas a ser eliminada. Mas, desta vez, numa Copa sem favoritos destacados, num continente “neutro”, é a maior favorita. A Copa das Confederações ajuda para saber quem será a maior decepção no ano seguinte. O que é normal: a Copa não diz quem é o melhor time do mundo por 4 anos. Mas quem foi o melhor daquele mês.
2) Fut Pop Clube – Quando chegarmos perto do 11 de junho de 2010, estará de novo nas ruas, no ar, a pátria de chuteiras, a corrente pra frente, aquele clima de Copa?Está na hora de pegar menos no pé do Dunga?
Mauro Beting – Está. Ele não é o Felipão, não é o Luxemburgo. Mas também não é mais um qualquer. São três anos melhores que a encomenda até agora. Quanto ao espírito de Copa, também pela Seleção que não ajuda, não será o clima que foi em 2006. Uma pena. Então, que a Seleção surpreenda. Se é que existe “surpresa” em uma boa participação brasileira em Mundial.
3) Fut Pop Clube – Você vai a estádios. Parte das torcidas que fazem aquele espetáculo bonito dentro dos estádios, apoiando os times, é parte das facções que brigam, vandalizam, ferem e matam nas ruas? Acha que a proposta de torcida única em jogo de alto risco é solução?
Mauro Beting – Torcida única institucionaliza a intolerância. Nem em tempos de guerra – como agora – pode e deve ser adotada. É atestado da incompetência da (falta) de autoridade. A esmagadora maioria das torcidas organizadas é gente boa. Mas a gente ruim está ligada 171% a ela. Uma lástima que as uniformizadas acabaram desuniformizando os estádios e as cidades. Pior ainda quando torcem mais por elas mesmas que pelos clubes. Ainda pior quando se tornam profissionais, como as grandes que vivem dos clubes, e vivem ganhando dinheiro com tudo.
4) Fut Pop Clube – Brasileirão que não para com jogo da seleção…Partidas decisivas de Copa do Brasil e Libertadores na mesma data… o calendário do futebol brasileiro precisa mudar?
Mauro Beting – Muda para muito melhor se for adaptado ao europeu, evitando a sangria dos clubes durante o Brasileirao. Os treinadores são obrigados a trocar motores com o avião em andamento – e trocam turbinas por hélices. Além disso, 23 datas para os estaduais é demais para tão pouco futebol. É muito jogo para pouca bola.
SÃO Marcos! FOTO: Fabio Menotti5)Fut Pop Clube – Entre os 10 mais do Palmeiras e do seu livro, estão dois goleiros. Dois pegadores de pênaltis. Oberdan Cattani e Marcos. Até o dia que o seu livro fechou, SÃO Marcos catou 31 pênaltis, Já são 34, impressionante.É igual a imensa importância dos dois para a história do Palestra / Palmeiras?
Mauro Beting – É demais. O Palmeiras, desde Oberdan, ou mesmo desde Jurandyr, é uma academia de goleiros. Raros os anos em que não esteve bem protegido. Difícil explicar o porquê.
Gilmar (ou Taffarel), Djalma Santos (80 anos), Carlos Alberto Torres, Nilton Santos, Roberto Carlos; Falcão, Didi e Zizinho; Garrincha, Pelé e Ronaldo. Ou que tal um meio com Gérson (Zico), Sócrates e Rivellino (Zagallo)? E um ataque com Romário, Tostão e Rivaldo? Esse timaço virtual que joga na sala Anjos Barrocos, do Museu do Futebol, ainda conta com Ronaldinho Gaúcho, Bebeto, Jairzinho, Julinho Botelho e Vavá.
Outra sala que emociona no percurso do torcedor é a dos gols. Depoimentos de craques da mídia sobre seus lances favoritos. E narrações de clássicos do rádio esportivo brasileiro. Osmar Santos, o Pai da Matéria, esmerilha num gol de Jorge Mendonça, o “Jojô Beleza”. Mesmo que você não seja palmeirense, não tem como não se arrepiar. Grande Osmar. Grande Jorge Mendonça!
Já saiu em DVD o filme sobre a 1ª Copa do Mundo que a Seleção conquistou
“Você sabia?”… O lateral-direito Djalma Santos, bicampeão do mundo pela Seleção – que chegou bem aos 80 anos, no último sábado – só jogou uma partida na Copa de 1958 (o são-paulino De Sordi sentiu uma contusão antes da final, contra os suecos, donos da casa). Djalma, então atleta da Portuguesa (jogaria ainda no Palmeiras e Atlético Paranaense), teria que marcar o ótimo ponta sueco Skoglund. Entrou e deu conta do recado tão bem que acabou escolhido para a seleção da Copa. Essa é uma das histórias contadas no documentário “1958 – O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil”, de José Carlos Asbeg, que estreou nos cinemas no ano passado (cinquentenário da conquista) e já saiu em DVD. O filme usa usa cenas oficiais da Copa, cedidas pela Fifa, e ouve depoimentos dos campeões mundiais Djalma, Nílton Santos, Dino Sani, Moacir, Zito, Mazzola, Zagallo e Pepe, mais o preparador Paulo Amaral. Didi, em material de arquivo. Estão no filme suecos, vice-campeões, como os que marcaram na final, Simonsson e Liedholm (o dele foi um golaço). Franceses, como Just Fontaine, artilheiro recordista, e russos. Jornalistas como Luiz Mendes, Paulo Planet Buarque (que fala a frase que dá título ao filme) e João Máximo. Peraí, não ouviu Pelé? Essa foi uma crítica feita ao filme de Asbeg. Mas quer saber? Pelé já teve um filme inteiro pra ele. E é bom ouvir um pouco mais os outros monstros da bola. Todos salientam a importância para a conquista da Taça do Mundo não só de Pelé, mas de campeões que não estão mais entre nós: Garrincha, Vavá e o vice da CBD, Paulo Machado de Carvalho, que chefiou a delegação. A produção é cuidadosa, no acabamento de artes, nos cenários de entrevistas, na qualidade das imagens, no uso de históricas gravações de rádio em cima das cenas dos jogos – vozes de locutores esportivos clássicos como Pedro Luiz, Edson Leite e Jorge Cury (a seca narração do gol de Gigghia que deu a Copa de 50 ao Uruguai, em pleno Maracanazzo). O que ficou um pouco confuso foi amarrar o filme todo em torno da decisão – os 5×2 contra a Suécia. E no meio desse momento glorioso ir contando a história: as tristes lembranças de 1950, a folha seca de Didi que classificou o Brasil pra Copa 58 e a campanha vitoriosa na Suécia. CLIQUE AQUI Continuar lendo ““1958 – O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil””→