
Se é verdade que é uma imagem vale mil palavras, então, a foto do menino chorando com a clássica camisa da seleção do mestre Telê Santana é um resumo perfeito da chamada “tragédia do Sarrià” e do desfecho da campanha brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. O trabalho, de Reginaldo Manente, ocupou quase toda a primeira página do “Jornal da Tarde” no “day after” da “tragédia” – e depois ganhou o Prêmio Esso de Fotografia, edição 1982.
Primeiras páginas chamativas como essa foram a marca registrada do “Jornal da Tarde” – “JT” para os íntimos -, publicado pelo grupo do jornal “O Estado de São Paulo” desde 1966 e que hoje foi para as bancas pela última vez. Posso citar também a capa no dia seguinte de outra tragédia, a derrota da emenda das Diretas-Já, em abril de 1984. A primeira página do “JT” saiu toda de luto. Também me lembro da campanha que o jornal fez no mandato de Paulo Maluf como governador de São Paulo. Ele abriu a Paulipetro e prometeu encontrar petróleo no interior do estado de São Paulo. O “JT” criou uma charge de Maluf como Pinóquio. O nariz ia crescendo dia a dia, até atravessar a primeira página toda.
Posso dizer que pude acompanhar o “Jornal da Tarde” no seu auge. Quando eu aprendi a ler, meu pai assinava o “Estadão”. Comecei a ler o noticiário do meu time, passei para o esporte, variedades e depois, o jornal todo.
Talvez pelo fato de o “Estadão” não circular às segundas, meu pai comprava o “Jornal da Tarde” nesses dias. Sorte minha. Segunda-feira era o dia da “Edição de Esportes”, caderno que fez história e sobre o qual vou me deter mais adiante.
Mudamos para a Belo Horizonte, 18 meses depois para o Rio de Janeiro … e continuamos leitores do “Jornal da Tarde”. Quando meu velho viajava para São Paulo, trazia o “JT” pra mim. Em tempos sem internet, isso era ouro. Em determinados dias, procurávamos o “JT” em alguma banca maior, com jornais de outros estados. Era um jornal muito bonito, fácil e gostoso de ler. Capas politizadas, muitas charges, excelente aproveitamento das fotos. Ainda tinha o caderno de variedades, seções como “Modo de Vida” e “Divirta-se” (com o roteiro cultural).
A “Edição de Esportes” de todas as segunda-feiras parecia quase uma revista. Capas bem desenhadas, cobertura completa da rodada do fim de semana e, num tempo com bem menos futebol ao vivo na TV, havia os desenhos de Gepp & Maia, reproduzindo os principais gols da rodada – que achado! Lembro da primeira página da “Edição de Esportes” sobre o primeiro título nacional do São Paulo, o Brasileiro de 77, decidido já em março de 78: só uma foto da hoje malfadada “taça das bolinhas”, num fundo preto, com a manchete: “Essa taça é tua, São Paulo”.
Toda a vez que um campeonato terminava, a “Edição de Esportes” do “JT” era um “must” para todo torcedor: campanha completa, análise dos jogos, perfis dos jogadores, dezenas de fotos, bastidores da decisão. Itens de colecionador. Devo ter até hoje algumas dessas edições especiais, dos anos 80.
A “EE” do “JT” tinha também a coluna “Bola de Papel”, com o Alberto Helena Jr e depois com o Roberto Avallone.
Certamente meu pai preferiria que o seu primogênito seguisse uma carreira de exatas, em especial, engenharia, como a profissão dele. Mas o gosto pela leitura de jornais, em especial a do “JT” no auge, influenciou demais a vida profissional do filho.
Obrigado, pai!
Obrigado, “Jornal da Tarde”.